Toulouse lançou jovem de 16 anos no último jogo, depois de Donnarumma se ter destacado no AC Milan. Vítor Baía acredita que tendência é para casos destes aumentarem e acha que Portugal entrará na onda.
Chama-se Alban Lafont, tem cara de miúdo, mas de balizas percebe ele. O Toulouse fez história este sábado na Liga francesa ao entregar a baliza a um jovem de 16 anos, imitando o que o AC Milan fizera recentemente com Gianluigi Donnarumma. Numa posição em que, por ser tão específica, a tendência é para apostar na experiência, estes casos não podem ser ignorados.
Até porque, diz-nos a história, vários dos melhores guarda-redes de sempre afirmaram-se numa equipa sénior ainda em idade precoce. Buffon, Casillas ou Neuer, por exemplo, apenas para citar alguns dos mais mediáticos da atualidade.
É impossível prever o futuro de Lafont ou Donnarumma, mas o primeiro passo está dado. E, muitas vezes, por ser o mais difícil, é também o mais importante.
No caso de Lafont, ao ser titular frente ao Nice, tornou-se o mais jovem guarda-redes da história da Liga francesa, com 16 anos e dois meses. A anterior marca pertencia a Mickael Landreau que, aos 17 anos e cinco meses, foi titular num Nantes-Bastia.
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A propósito destes casos, o Maisfutebol conversou com Vítor Baía. Também ele um talento precoce das balizas e, agora, coordenador do «Projeto 1», uma ideia da Federação Portuguesa de Futebol para formar os guarda-redes do futuro.
Baía vê com bons olhos estas apostas precoces, pois não tem dúvidas: «Antes dos 20 anos, um guarda-redes já está preparado para assumir uma baliza.»
«A tendência é para cada vez mais jovens aparecerem mais cedo. Tem a ver com a qualidade do treino e a evolução das Ligas. Ficam mais cedo preparados para defender as suas equipas e trazem conceitos novos», explica.
Não será do nada porque o futebol é um mundo em que nada é oferecido. «É preciso haver uma conjugação de fatores, entre os quais a sorte, para que haja uma aposta efetiva. Acontece com quase todos os jovens no início de carreira. Depois é preciso agarrar essa oportunidade», descreve.
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«Não pode pensar que pode correr mal. Quando há uma aposta é porque as pessoas acreditam no valor da pessoa. É um risco calculado. Não vale a pena apostar se vai estar com medo de poder prejudicar a progressão de um jovem», alerta.
Nesse âmbito, acredita que ainda há trabalho a ser feito em Portugal, nomeadamente. Na Liga portuguesa predominam guardiões estrangeiros e experientes. «É uma mentalidade que é preciso mudar. Esse paradigma tem de ser alterado e a verdade é que há equipas a trabalhar muito bem. Acredito que em cinco, seis anos a tendência será completamente invertida», projeta.
E explica porquê: «O mais importante é porque sei que há qualidade. Depois tem a ver com a evolução do treino e a evolução do trabalho dos treinadores de guarda-redes. É esse, também o objetivo da Federação com este projeto.»
Em setembro deste ano foi dado o primeiro passo. A convocatória da seleção sub-16 integrou o dobro do habitual número de guarda-redes. Seis em vez de três. «Queremos que seja uma prática comum nas seleções nacionais, por causa da partilha de metodologia. É um trabalho que estamos a levar, também, às Associações. Queremos passar a ideia que vale a pena apostar nos jovens. Este é o caminho», encerra.
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Lançar guarda-redes em idades madrugadoras pode ser um risco, mas também é certo que, se olharmos para grande parte das referências na posição nos últimos anos, no futebol europeu, quase todos começaram a construir o currículo bem cedo.
Veja-se Gianluigi Buffon. Unanimemente considerado um dos melhores guarda-redes italianos de sempre, começou a jogar no Parma de Nevio Scala com 17 anos. Foi num duelo com o Milan de Roberto Baggio e Weah. E manteve a baliza inviolável.
Iker Casillas, que agora defende as redes do FC Porto, também assumiu a baliza do Real Madrid com 18 anos, aproveitando uma lesão de Bodo Illgner. Olhando para os donos da baliza dos outros grandes de Portugal, vemos situação idêntica. Júlio César fez o primeiro jogo pelos seniores do Flamengo com 18 anos, embora só tenha agarrado o lugar aos 21. Rui Patrício foi aposta de Paulo Bento no Sporting com 18 anos. Um ano depois relegou Tiago para o banco.
Lá por fora há ainda Manuel Neuer, que para muitos é, hoje, o melhor do mundo, e começou a jogar no Schalke 04 aos 20 anos, por aposta de Mirko Slomka. Petr Cech tinha a mesma idade quando assinou pelo Rennes, de França, depois de ser lançado aos 18 anos no Chmel Blsany, da República Checa. Thibout Courtois fez ainda melhor: estreou-se no Genk com 16 anos e explodiu com 18. Aos 19 já estava no Atlético Madrid. E por falar nos «colchoneros», também pode ser lembrado o caso de David de Gea, que se estreou num jogo da Liga dos Campeões, no Dragão, com apenas 19 anos. Na altura, entrou para o lugar do lesionado…Roberto (esse mesmo).
Por fim, dois exemplos de guardiões que já deixaram os relvados mas foram referências incontornáveis ainda neste século. Oliver Kahn sobreviveu a uma goleada de 4-0 na estreia pelo Karlsruher, porque Winfried Schafer não desistiu dele: aos 21 agarrou o lugar, aproveitando uma lesão de Alexander Formulla. O holandês Edwin Van der Sar começou a jogar no Ajax com 20 anos, pelo mão de Leo Bennhakker. Também aproveitando o azar alheio, no caso de Stanley Menzo.
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Fonte: MaisFutebol