Estas novas gerações necessitam perceber que futebol não é para quem pode, mas sim para quem quer.
Portugal sempre foi um país em que os jovens naturalmente nascem com habilidade para jogar à bola. Em qualquer espaço de rua, conseguiram sempre idealizar um campo de futebol e para isso bastava-lhes colocar duas pedras de cada lado e pôr a bola a rolar. Árbitro era coisa que não existia. Com mais ou menos jeito a paixão alimentava o sonho, pois eram eles que queriam ser jogadores de futebol. Viviam numa época em que os pais os deixavam “largados” até ao pôr do sol a jogar, sem problemas de segurança pois qualquer vizinho sabia onde estavam. Hoje, são as crianças ou são os pais que querem que seus filhos sigam as pisadas de Cristiano Ronaldo para serem as tábuas de salvação para as dificuldades da vida?
Os nossos jovens devem desenvolver, em primeira mão, o gosto e o hábito pela prática desportiva regular, uma natural atitude positiva de participação e persistência, sabendo que o erro faz parte do processo normal de aprendizagem, pois só assim se conseguem passar as dificuldades e ter conhecimento do que é necessário trabalhar para continuar a desenvolver um conjunto de competências imprescindíveis para um adequado crescimento do jovem futebolista.
A formação desportiva tem de ser delineada de forma integrada no plano académico e no seu relacionamento familiar, procurando que todos os intervenientes conduzam no sentido certo e adequado crescimento do jovem. Formar é uma tarefa de muita paciência e atenção em cada etapa do seu desenvolvimento, pois o futebol de alto nível não tem nada a ver com a formação.
Quem lá consegue chegar, não tem de ter somente boas condições técnicas - tem que reunir um conjunto de competências que passam pelo espírito de sacrifício, sentido de compromisso e gestão de expetativas, competências estas que devem ser os pais a fomentar e trabalhar. Estas novas gerações necessitam perceber que futebol não é para quem pode, mas sim para quem quer.
Os pais têm papel fundamental na formação se não alimentarem ilusões irreais e não conduzirem os seus filhos como simples marionetas ao ponto de lhes criarem traumas, que podem até matar o simples prazer de jogar à bola com os amigos no quintal da vizinha.
Neste longo percurso de formação, onde aparecem as frustrações normais de insucesso ou as ilusões exacerbadas do sucesso, são os pais o principal porto de abrigo de uma criança que aspira e tem o sonho de ser jogador de futebol e estes devem ter um papel fundamental na gestão destas expectativas de sucesso ou insucesso.
Numa geração em que tudo é de fácil acesso, em que nos habituámos a dar aos nossos filhos aquilo que nunca tivemos, sem depois fomentar a estima pelas coisas, devemos fazê-los sentir o quanto é difícil conseguir as coisas, pois só damos verdadeira importância às coisas quando as perdemos.
Fomentem nos vossos filhos o espírito de conquista, vontade de vencer, capacidade de sofrer e dar a volta aos problemas, que sejam eles a conseguirem dar a volta por cima.
Não joguem por eles, deixem-nos jogar.
Fonte: Visão online
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