Porquê "Redes ao quadrado"?

A forma física da rede da baliza e a posição de Guarda-Redes, onde tudo o que acontece é elevado ao quadrado... Os sucessos e os fracassos! As alegrias e as frustrações! O esforço e a dedicação! A entrega e a paixão!

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

No meio está a virtude!

A eficácia e o rendimento desportivo estão muitas vezes ligados à capacidade e qualidade dos seus principais intervenientes, jogadores e treinadores. Contudo, a ciência e a estatística podem, em muitos casos, ajudar certa equipa, jogador ou treinador a compreender melhor o jogo e modificar alguns comportamentos de forma conjunta ou individual, de forma a atingir resultados mais produtivos e eficazes!

O caso das grandes penalidades e da intervenção dos guardas-redes nessa situação é sempre um tema muito estudado, e que por vezes, nos dá a conhecer resultados bastante curiosos e interessantes, como estes que vos apresento a seguir...

Um grupo de investigadores da University College de Londres decidiu analisar desde 1976 até 2012, 37 desampates por grandes penalidades das fases finais de Mundiais e Europeus de Futebol e conclui que, nestas ocasiões, os guarda-redes aumentam a probabilidade de defesa se permanecerem no centro da baliza, pois o comportamento dos guarda-redes tende a obedecer à chamada "falácia do apostador", ou seja, após uma sequência de remates para o mesmo lado, os guarda-redes têm uma propensão para se atirarem para o lado contrário. Os especialistas também designam este comportamento por "falácia cognitiva" que leva a uma tomada de decisão errada através de uma perceção empírica sem fundamento.

Num outro estudo, realizado em 2014 pelo professor Ofer Azar, da Faculdade de Gestão da Universidade Ben-Gurion (Israel), foi possível concluir que os guarda-redes têm mais hipóteses de defender um penálti se não se lançarem para o lado esquerdo ou direito, permanecendo no centro da baliza.


No estudo de Ofer Azar, foram analisadas 286 grandes penalidades marcadas nas principais ligas europeias e campeonatos internacionais. Os remates foram classificados em três grandes grupos (para a esquerda do guarda-redes, para a direita do guarda-redes e para o centro da baliza), bem como as ações dos guarda-redes (imóvel no centro da baliza, queda para esquerda e queda para a direita).

Os resultados foram surpreendentes e mostraram que os guarda-redes terão 33.3% de hipóteses de defender o penálti se permanecerem no centro da baliza. As percentagens descem bastante no caso de queda para a esquerda (14.2%) ou de queda para a direita (12.6%).

Apesar disso, apenas uma minoria insignificante (6.3%)  dos guarda-redes avaliados optou por ficar no centro da baliza, algo que se explica por existir uma clara predisposição para a ação. Isso implica que um golo marcado num penálti provocará no guarda-redes uma reação mais dolorosa se ele optar por ficar no centro da baliza, em vez de se atirar para um dos lados.


Concordam com a ciência ou acreditam que o guarda-redes têm mais probabilidades de defender um penálti se se lançar para um dos lados?

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O Talento do Jogador português Formação … sustentabilidade … rendimento (artigo de José Neto)

Tendo em atenção o início dos campeonatos no âmbito da formação e na preparação do ano desportivo pelos clubes neste domínio, aproveito para refletir num tema que penso merecer interesse. 

Aproveito para desejar as maiores venturas a todos aqueles que se dedicam a esta área técnica, pedagógica e competitiva na conquista do melhor caminho para a conquista do futuro.

Um Jogo de Futebol é portador de uma magia inigualável. Como diz (Garganta, 2002), em 90 minutos é possível condensar várias histórias e reproduzir muitas das graças e desgraças da vida. Daí um dos seus principais encantos – uma obra de arte cuja magnitude social muitos pseudo intelectuais ainda não entenderam.

O jogo de futebol, é indiscutivelmente nos dias de hoje como o tem sido ao longo dos tempos, a modalidade desportiva de maior impacto na sociedade, capaz de orientar a imagem que a mesma representa, sendo muitas vezes influenciado por ela.

Quanto a mim a essência do jogo reside no seu carácter lúdico, transposto para um patamar cultural indispensável na formação de uma sociedade projectada para uma vida universal, apelando ao despertar de uma inteligência colectiva, numa exigente adaptação às múltiplas situações que a prática do belo jogo impõe. Daqui, emerge uma figura capaz de fazer despertar o prazer na concretização dos seus objectivos de conquista – o TALENTO.

As crianças e jovens bem cedo, através da prática do jogo espontâneo, aprendem a controlar as suas emoções, estabelecem uma partilha comunitária, de canseiras repetidas até ao limite, num envolvente desafio pela conquista do suor experimentado numa paixão continuada.
Das praças, ruas, montes, caminhos, estradas em terra batida … sem árbitros, com um nº de jogadores variável de acordo com o tamanho do terreno (mas quem mandava era o dono da bola), balizas marcadas com pedras sobrepostas, quantas vezes descalços, para não estragar a bola, sem hora marcada…tinha lugar o Futebol de rua!...

Hoje, a maioria dos jovens cresce em ambiente marcadamente hostil para o desenvolvimento da sua criatividade. O contexto familiar e escolar caracteriza-se por um clima de orientação intencional, com normas altamente restritivas, o aumento dum clima de desconfiança, a ausência de espaços livres em proximidade, a existência de uma ocupação repetidamente construída em que os teclados são os primeiros mensageiros e um comodismo doentio, sempre acaba por impor as suas regras. Perde-se assim a alma do jogo que autenticamente o Futebol de rua fazia eclodir e transita-se para as escolas de Futebol a relação com a aprendizagem do jogo.

Entretanto a formação emocional no seio familiar, da criança e do jovem, fica dependente do reconhecimento que lhe é prestado. Crianças e jovens mais reconhecidos e amados acreditam mais nas suas capacidades, enquanto que as pouco elogiadas ou esquecidas, ou quando o elogio não está de acordo com a sua verdadeira evolução, entram em dúvida sobre si próprias, retraem-se e acabam por desistir das tarefas que lhe estavam confiadas.

A acrescentar o facto de vermos certos pais, por um lado a alhearem-se completamente da prática desportiva de seus filhos, vemos outros, que pelo contrário a usar a pressão por comentários depreciativos com interferências no trabalho dos treinadores, utilizando espectativas elevadas, usando a proibição da prática desportiva como forma de castigo de um mau resultado escolar, acabando por causar um autêntico descontrolo emocional de quem tem pelo treino e pelo jogo uma das melhores prioridades para evoluir de forma qualificada. 

Por outro lado e no que diz respeito à Escola, as atividades da educação física e o próprio desporto escolar, encontram-se cada vez mais reunidas num dossier de magras intenções, em que a tutela se desobriga da responsabilidade, vendo aumentar-se cada vez mais uma iliteracia desportiva e que certos “donos da verdade” se gabam de aplaudir. Cargas horárias irracionalmente desajustadas. A disciplina de educação física, sendo obrigatória, a sua avaliação, a partir de um determinado momento apenas serve para fins estatísticos. O desporto escolar com horários completamente desajustados para o interesse dos alunos e em que os federados numa determinada modalidade participam com os não federados, não tendo estes a possibilidade de competir a nível mais elevado … etc … Deste modo, o desporto vê-se confrontado com uma escola que não serve os verdadeiros interesses que lhe estão confiados, como seja a formação integral do jovem e que assim se vê mais disponibilizado para uma certa “preguicice”, renunciando ao esforço, ao suor, à dor, ao sacrifício, à perda de hábitos de trabalho em equipa, ao abandono da responsabilidade no cumprimento de regras, deveres e obrigações, da capacidade de emulação e superação para se tornar mais forte, mais ágil, mais resistente, mais veloz, mais inteligente que pela conversão do pensamento em ação, pode fazer transbordar numa energia coletivamente consagrada.

Deste modo os clubes se vão preparando para dar respostas, criando academias ou escolinhas de formação desportiva, começando por inserir na sua marca o conceito verdadeiramente formativo, quer pela construção de estruturas básicas de qualidade garantida, quer com o recrutamento de treinadores pedagogicamente qualificados, recorrendo alguns deles, ao apoio de equipas na área médica, nutritiva, pedagógica, psicológica e social.

É evidente que por vezes se vai assistindo, aqui e acolá, a uma sistematização dum ensino pedagogicamente standardizado, e, com uma agravante motivação para a tipificação para a clonagem de jogadores, com expectativas elevadas a curto prazo, mas excessivamente previsíveis a longo prazo, retirando-se ao génio e ao criador o seu verdadeiro espaço.
Por vezes opera-se uma demasiada tecnificação do ensino do jogo e do treino, constituindo uma entrave á evolução inteligente do jogador, orientando-o para práticas descontextualizadas que uma repetição constante aborrece e constrange.

No entanto, o que se via há uns tempos a esta parte em matéria de treino, foi praticamente irradiado, isto é, “obrigando” os jovens atletas a cargas de treino barbaramente excessivas para as qualidades energéticas e funcionais dos atletas em formação, usando métodos utilizados pelos adultos, como se uma criança fosse um adulto em miniatura, dando origem ao vulnerável aparecimento de lesões, saturação, hipertrofias que conduziam a traumatismos articulares, ligamentares e músculo tendinosos, culminando no esgotamento e por fim, ao próprio abandono.

Como dizia, os clubes estão cada vez mais apostados em capitalizar de forma humana, técnica e cientificamente os seus quadros no âmbito formativo. Os seus treinadores, numa larguíssima maioria ou são oriundos das universidades ou com grau de formação de treinadores compatível para as funções a desempenhar. Sabem perfeitamente que em matéria de treino deve haver um respeito absoluto pelo grau maturacional do atleta e por isso, a qualidade do treino tem obrigatoriamente de ser feita com a observação da idade biológica do atleta e não apenas recorrendo à idade cronológica, no sentido de evitar os perigos de uma especialização precoce. Sabem que têm de seguir as grandes etapas de desenvolvimento - da formação, iniciação, orientação, especialização até ao alto rendimento. Sabem que têm que ser pacientes e persistentes, tornado os treinos motivadores, criativos e organizados. Sabem que devem evitar as instruções de forma hostil ou primitiva, mas sempre de forma encorajadora. Têm consciência de que ganhar é muito importante, mas a capacidade de rendimento ainda se torna mais operante e sabem ainda que no seu “diário de bordo” tem que estar inscrito em letras douradas os valores da honestidade e a firmeza das convicções, procurando ser um educador, amigo, conselheiro, enfim, um modelo de comportamento exemplar, segundo o qual se permita corrigir sem ofender e orientar sem humilhar.

É com base nesta doutrina que ao longo do tempo no capítulo da formação de treinadores e como responsável docente na minha vida académica, perante os alunos dos cursos de licenciatura ou mestrado, procuro incutir nas minhas mensagens pedagógicas.

Penso que deste modo o talento pode germinar de forma mais segura e generosa, porque está inserido numa cambiante inatacável de processos, sendo assim mais capaz de conquistar outro rumo com nova distância … e como dizia Fernando Pessoa “ do mar ou outra, mas que seja nossa”!...

Fonte: A Bola online

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

"Patrício: o especialista dos penáltis"

Quando no dia 26 de novembro de 2006 Rui Patrício defendeu uma grande penalidade no dia em que Paulo Bento o lançou às feras na Madeira frente ao Marítimo estava apenas a dar o mote para aquilo que viria a ser a sua carreira até este momento. Forte personalidade entre os postes, assumindo uma enorme presença perante os adversários que o enfrentam na marcação de castigos máximos.

Ontem, diante do CSKA, a defesa perante o remate de Doumbia foi apenas mais um episódio recorrente de um homem que se tornou já especialista a travar grandes penalidades. Acrescente-se a esse facto o peso que a estirada poderá vir a desempenhar no final da eliminatória. É verdade que o Sporting parte para a Rússia em vantagem, mas o resultado não é confortável e, na hora das contas finais, Rui Patrício poderá vir a ser ovacionado como um dos heróis da passagem à fase de grupos da Champions.

Números


A estatística não deixa, de resto, grandes dúvidas relativamente à boa performance do guarda-redes leonino, conforme se pode ver na infografia em anexo.

Dos 39 castigos máximos que teve de enfrentar em jogos de caráter oficial ao serviço do Sporting – não estão contabilizados os jogos da Seleção nem os desempates –, Rui Patrício travou onze remates e impôs a sua presença em dois tiros que foram para fora.

Fonte: Record online

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Como se forma um craque

O sucesso de futebolistas como Cristiano Ronaldo, Messi e outros atletas (mais ou menos atuais) faz com que este desporto tenha cada vez mais adeptos e amantes a tentar a sorte ou a perseguir o sonho de ter uma carreira de destaque. Para poder dar a conhecer os meandros deste mundo, o zerozero.pt foi falar com quem lhe dedica quase uma vida.

Atualmente como coordenador do recrutamento para a formação do Sporting, Aurélio Pereira está no clube há já 48 anos. Ainda que esteja vinculado aos leões, a visão que tem da formação de jogadores é global, tornando o antigo técnico numa voz de referência no meio.

Hoje em dia, as escolas de futebol e os clubes recebem crianças a partir dos seis anos de idade. Todavia, mais do que aprender, os jovens têm que mostrar capacidades inatas. «Aos seis, sete, oito anos são detetados os miúdos com habilidade natural, com uma boa relação com a bola e a partir daí é feita uma primeira fase, até aos 12 anos, de ensino do futebol, de princípios de jogo. Depois é por aí fora até chegar à equipa principal. Em todos os escalões a aprendizagem é feita quase como um curso. Não há um curso porque não se ensina, prepara-se um jogador para ser profissional de futebol», explica Aurélio.


A partir do momento em que a criança integra uma escola de futebol, o sucesso ou insucesso pode passar muito pela «envolvência», isto é, pelo meio em que se insere. Nesse aspeto, o «caráter» vai ser determinante para vingar ou não no seu caminho. «Há tanta coisa para que, eventualmente, o atleta se perca no percurso: desde o treino, especialização precoce, as más companhias, a alimentação, em termos de comportamentos tudo influencia», diz o antigo treinador.

Quando um atleta está ainda em construção, o papel do técnico é importante, sendo que o seu perfil é «fundamental». Aurélio Pereira defende que um líder «de jovens tem que ser um treinador mais de pedagogia, menos ansioso, menos nervoso, mais estável, para que os miúdos possam comungar com ele essa calma, onde podem crescer com alguma tranquilidade».
Preparar para o futuro

Se há alguma diferença que o nosso país possa fazer em relação ao futebol tem a ver com o clima, os espaços e a cultura. «O nosso miúdo é intuitivo, rápido, tem imaginação», enumera o coordenador, acrescentando que isso se deve, também, ao facto de «o primeiro brinquedo» que é costume dar-se a uma criança ser «uma bola». Para além disso, «o nosso miúdo tem uma apetência para o futebol de nascença e é conduzido para as escolas muito cedo», acrescenta Aurélio.

Olhando para as camadas jovens e tentando comparar com aquilo que acontece nas equipas seniores, as transferências de jogadores não são feitas da mesma forma nem há, na maioria dos casos, contratações com valores 'astronómicos'. «Até aos 19 anos todos os atletas podem mudar de clube, todos os anos, se quiserem. Nesse aspeto o mercado é livre», elucida o sportinguista, ressalvando, no entanto, que «aos 14 anos ele [o jovem jogador] pode fazer o primeiro contrato de formação e aí sim, se algum clube o quiser terá que negociar com o outro».

Com o mediatismo que é cada vez mais dado a algumas estrelas do mundo da bola, é natural que os jovens sonhem com uma carreira semelhante. Aurélio Pereira aponta as características que são necessárias para vencer nesta profissão: «Tem que ser logo pela relação com a bola e a habilidade natural, isso é o principal requisito para começar», afirma, vincando ainda que a «paixão» é fundamental, já que é ela que «lhes traz depois vontade de querer ser alguém no futebol».

No sucesso ou não de uma criança há outro fator importante envolvido: a família. «As aspirações podem ser muitas, mas o miúdo pode não ter as apetências que os pais lhe atribuem ou o sonho que eles têm. Uma criança tem um sonho que é ser jogador de futebol, mas esse sonho pode não ser realizável», alerta o técnico dos leões. Para Aurélio Pereira, os pais devem olhar para o futebol «como uma possibilidade de ajudar na sua vida quotidiana e não estar obcecados com o facto de [os seus filhos] serem Ronaldos ou Figos», porque «nem todos podem ser».

Em jeito de mensagem para os jovens praticantes da modalidade, o coordenador do Sporting aconselha que «olhem para o futebol como uma modalidade que é extremamente bonita, que o façam e que desenvolvam as suas qualidades com tranquilidade, que seja jogado com prazer e alegria e não sob pressão».

Fonte: zerozero.pt