O sucesso de futebolistas como Cristiano Ronaldo, Messi e outros atletas (mais ou menos atuais) faz com que este desporto tenha cada vez mais adeptos e amantes a tentar a sorte ou a perseguir o sonho de ter uma carreira de destaque. Para poder dar a conhecer os meandros deste mundo, o zerozero.pt foi falar com quem lhe dedica quase uma vida.
Atualmente como coordenador do recrutamento para a formação do Sporting, Aurélio Pereira está no clube há já 48 anos. Ainda que esteja vinculado aos leões, a visão que tem da formação de jogadores é global, tornando o antigo técnico numa voz de referência no meio.
Hoje em dia, as escolas de futebol e os clubes recebem crianças a partir dos seis anos de idade. Todavia, mais do que aprender, os jovens têm que mostrar capacidades inatas. «Aos seis, sete, oito anos são detetados os miúdos com habilidade natural, com uma boa relação com a bola e a partir daí é feita uma primeira fase, até aos 12 anos, de ensino do futebol, de princípios de jogo. Depois é por aí fora até chegar à equipa principal. Em todos os escalões a aprendizagem é feita quase como um curso. Não há um curso porque não se ensina, prepara-se um jogador para ser profissional de futebol», explica Aurélio.
A partir do momento em que a criança integra uma escola de futebol, o sucesso ou insucesso pode passar muito pela «envolvência», isto é, pelo meio em que se insere. Nesse aspeto, o «caráter» vai ser determinante para vingar ou não no seu caminho. «Há tanta coisa para que, eventualmente, o atleta se perca no percurso: desde o treino, especialização precoce, as más companhias, a alimentação, em termos de comportamentos tudo influencia», diz o antigo treinador.
Quando um atleta está ainda em construção, o papel do técnico é importante, sendo que o seu perfil é «fundamental». Aurélio Pereira defende que um líder «de jovens tem que ser um treinador mais de pedagogia, menos ansioso, menos nervoso, mais estável, para que os miúdos possam comungar com ele essa calma, onde podem crescer com alguma tranquilidade».
Preparar para o futuro
Se há alguma diferença que o nosso país possa fazer em relação ao futebol tem a ver com o clima, os espaços e a cultura. «O nosso miúdo é intuitivo, rápido, tem imaginação», enumera o coordenador, acrescentando que isso se deve, também, ao facto de «o primeiro brinquedo» que é costume dar-se a uma criança ser «uma bola». Para além disso, «o nosso miúdo tem uma apetência para o futebol de nascença e é conduzido para as escolas muito cedo», acrescenta Aurélio.
Olhando para as camadas jovens e tentando comparar com aquilo que acontece nas equipas seniores, as transferências de jogadores não são feitas da mesma forma nem há, na maioria dos casos, contratações com valores 'astronómicos'. «Até aos 19 anos todos os atletas podem mudar de clube, todos os anos, se quiserem. Nesse aspeto o mercado é livre», elucida o sportinguista, ressalvando, no entanto, que «aos 14 anos ele [o jovem jogador] pode fazer o primeiro contrato de formação e aí sim, se algum clube o quiser terá que negociar com o outro».
Com o mediatismo que é cada vez mais dado a algumas estrelas do mundo da bola, é natural que os jovens sonhem com uma carreira semelhante. Aurélio Pereira aponta as características que são necessárias para vencer nesta profissão: «Tem que ser logo pela relação com a bola e a habilidade natural, isso é o principal requisito para começar», afirma, vincando ainda que a «paixão» é fundamental, já que é ela que «lhes traz depois vontade de querer ser alguém no futebol».
No sucesso ou não de uma criança há outro fator importante envolvido: a família. «As aspirações podem ser muitas, mas o miúdo pode não ter as apetências que os pais lhe atribuem ou o sonho que eles têm. Uma criança tem um sonho que é ser jogador de futebol, mas esse sonho pode não ser realizável», alerta o técnico dos leões. Para Aurélio Pereira, os pais devem olhar para o futebol «como uma possibilidade de ajudar na sua vida quotidiana e não estar obcecados com o facto de [os seus filhos] serem Ronaldos ou Figos», porque «nem todos podem ser».
Em jeito de mensagem para os jovens praticantes da modalidade, o coordenador do Sporting aconselha que «olhem para o futebol como uma modalidade que é extremamente bonita, que o façam e que desenvolvam as suas qualidades com tranquilidade, que seja jogado com prazer e alegria e não sob pressão».
Fonte: zerozero.pt
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