A forma física da rede da baliza e a posição de Guarda-Redes, onde tudo o que acontece é elevado ao quadrado... Os sucessos e os fracassos! As alegrias e as frustrações! O esforço e a dedicação! A entrega e a paixão!
A "Alto Rendimento - Avaliação e Formação Desportiva", vai promover uma ação de formação sobre treino de guarda-redes no próximo dia 3 de Abril de 2015 em Viseu, no auditório da AF Viseu e no Campo 1 de Maio.
Este evento terá como preletores o Mister Jorge Vital (Treinador de guarda-redes do SC Braga) e o Mister Jorge Silva (Treinador de guarda-redes do Penafiel) que irão aprofundar temas como o planeamento de um microciclo e os conteúdos a abordar nos diferentes escalões de formação.
A cidade do Porto, vai receber nos dias 5, 6 e 7 de Junho de 2015 a segunda edição do "Congresso Internacional de Treino de Guarda-Redes HO Soccer". Esta iniciativa é coordenada pelo Treinador de Guarda-Redes do SL Benfica, Hugo Oliveira, e organizada pelo Kick Off/Toda-a-Prova. O congresso será realizado no IPAM e nas instalações do Futebol Clube da Foz.
O evento estará dividido em parte teórica e prática, onde vários treinadores de reconhecidos clubes mundiais, como o Barcelona, Ajax, Juventus, Atlético Mineiro, Red Bull Salzburg, Zenit, Benfica, Sporting e Braga, transmitirão aos participantes alguns dos seus conhecimentos na área de treino de guarda-redes.
Será também realizado um tributo aos antigos guarda-redes internacionais portugueses, Vitor Damas e Manuel Bento.
Como é que um guarda-redes consegue deixar o estádio a festejar, eufórico e a aplaudir como se de um golo se tratasse?! Como consegue deixar a frase "Wow, que reflexos!" na boca de todos os adeptos?! Na maior parte das vezes, devido à sua capacidade de reagir a um estímulo no menor tempo possível, com a máxima agilidade e coordenação de movimentos e assim proporcionar defesas que parecem impossíveis e alcançar bolas que parecem ser inalcançáveis.
De uma forma geral, a velocidade pode ser caracterizada como " a capacidade de reagir, rapidamente, a um sinal ou estímulo e/ou efetuar movimentos com oposição reduzida no mais breve espaço de tempo possível" (Castelo et al, 2000). Existem diferentes formas de manifestação da velocidade, mas sem dúvida que a que merece mais destaque e se torna indispensável no treino de guarda-redes é a de reação, também chamada de Tempo de Reação. A reação diferencia-se entre reação simples e complexa. Uma reação simples é caracterizada pela resposta a um sinal conhecido e pela resposta a elaborar conhecida, enquanto uma reação complexa se caracteriza pela resposta a um sinal desconhecido cuja resposta é também desconhecida e onde não existe perceção da natureza nem do momento em que vai ocorrer o estímulo, adequando-se perfeitamente num jogo desportivo, onde é necessário reagir consoante as diversas situações de jogo.
Assim, é importante que o treino de guarda-redes seja focado principalmente em abordagens complexas e com estímulos maioritariamente visuais, visto se tratarem dos estímulos mais relevantes em situação de jogo.
Não quer isto dizer que não deva ser realizado, nos escalões de formação, exercícios de reação com sinais e respostas conhecidos, de forma a possibilitar a passagem pelo dois tipos de abordagens e uma correta progressão entre os exercícios aos jovens atletas, até atingirem os diferentes exercícios de formas técnico-táticas do jogo específico do futebol.
Muitas metodologias, aparelhos e materiais podem ser utilizados neste tipo de treino, só cabe ao treinador utilizar ao máximo a sua criatividade e imaginação e adaptar cada treino e cada exercício aos seus guarda-redes, tendo sempre em mente que os objetivos e metas deste treino são:
Permitir aos seus guarda-redes uma avaliação mais rápida da situação (perceber);
Tornar a tomada de decisão mais breve e eficaz (decidir);
Possibilitar um deslocamento/movimento mais rápido (atuar).
Não esquecer que a velocidade deve ser treinada tanto no período preparatório, como no competitivo, devendo neste último, ser utilizados principalmente exercícios específicos e com bola.
Estão assim reunidas as condições para tornar o futebol ainda mais mágico!
O guarda-redes do Manchester City, Joe Hart, esteve ontem em destaque no jogo a contar para os Oitavos-de-Final da Liga dos Campeões frente ao Barcelona, onde conseguiu atingir uma marca de 10 defesas durante a partida. O Manchester City acabou por ser eliminado, mas o guarda-redes inglês foi, sem dúvida, a figura da partida!
Existem alguns aspetos técnicos, táticos e psicológicos que considero fundamentais para obter um número tão elevado de defesas num só jogo. Aqui fica o vídeo com todas as defesas de Joe Hart no jogo de ontem:
A nível técnico é possível observar que Joe Hart consegue realizar deslocamentos frontais e laterais com grande velocidade e que a sua frequência de apoios enquanto se mantém na posição base é elevadíssima, possibilitando-lhe reagir muito mais rápido ao estímulo enviado pelo jogador ou pela bola.
Relativamente ao aspeto tático, observa-se que Hart se encontra sempre muito bem colocado e orientado consoante a movimentação da bola, dos companheiros e dos adversários, o que dificulta bastante a ação e consequente sucesso do atacante.
No que diz respeito ao aspeto psicológico, e apesar de não ser observável em vídeo, é certo que o guardião inglês necessitou de manter níveis de concentração muito altos durante os 90 minutos, o que facilitou uma tomada de decisão precisa e eficaz em cada defesa efetuada.
Com certeza que todos estes aspetos contribuíram para o sucesso de Joe Hart... Não bastava que Hart dominasse apenas a componente técnica, tática ou psicológica e a utilizasse isoladamente e individualmente em cada ação de jogo. Só o perfeito sincronismo entre todas elas é que fez do guarda-redes inglês a figura do jogo!
O que poderá ser um treinador para um atleta?! Poderá ser um simples agente de transmissão de conhecimentos, colocando-os em prática? Poderá ser um professor? Poderá ser um amigo? Poderá ser um Pai? Penso que poderá ser tudo isso, dependendo dos contextos onde está inserido, tanto o treinador como o atleta. Mas estou certo que, esta relação é uma das variáveis mais importantes no mundo do desporto, tanto numa modalidade individual como coletiva. Isto porque o atleta não é nada sem o treinador e o treinador não é nada sem o atleta… Ambos têm uma relação permanente, por vezes diária, tornando-se fundamental uma ajuda e colaboração mútua para atingir os objetivos pessoais, profissionais e da instituição que representam!
Acredito que uma sincronização ótima entre estes agentes, leva a resultados desportivos mais positivos. Se isso acontecer, a confiança existente entre Treinador - Atleta será elevada, o que levará o treinador a acreditar nas capacidades táticas, técnicas, físicas e psicológicas dos seus atletas e os atletas a acreditarem nos ideais, processos e métodos impostos pelo treinador. Portanto, deve existir uma relação de confiança mútua, em que os atletas saibam que podem conversar com o treinador e o treinador com os atletas, de uma forma aberta, natural e genuína para que se comece a construir ou enriquecer a união de grupo que é exigida para uma equipa ter sucesso.
Apesar disso, penso que se torna importante a distinção dos momentos fora de treino e do momento de treino, cabendo tanto ao atleta como ao treinador realizar essa distinção. Ou seja, o treinador tem a função de “educar” os seus atletas e fazê-los entender que a naturalidade, a simplicidade e mesmo a cumplicidade que poderá ter com os atletas terá de se ocultar parcialmente na hora do treino, dando lugar a uma maior rigidez, exigência e concentração para que os objetivos do treino sejam consolidados e concretizados eficazmente.
No caso do treinador de guarda-redes, penso que esta relação assume ainda mais importância para o sucesso do treino, do atleta e do treinador, por se tratar de uma posição realmente específica e que exige um perfeito conhecimento das sensações e vivências causadas por esse facto. Uma ótima conjugação e separação dos momentos de descontração e de trabalho, de comunicação e de silêncio, de motivação e de reflexão por parte do atleta, possibilitarão com certeza o sucesso de cada um e uma harmoniosa relação entre treinador de guarda-redes e guarda-redes.
O "Redes ao Quadrado" entrevistou o guardião do Vizela, Pedro Albergaria que deu nas vistas, na semana passada, por defender dois penaltis num só jogo. O feito foi conseguido na partida frente à Oliveirense, onde Pedro Albergaria conseguiu defender dois dos três penaltis assinalados contra o Vizela. No primeiro parou o remate de Marco Ribeiro e no segundo o de Evra, ajudando a sua equipa a conquistar uma vitória por 3-0.
Aqui se segue a entrevista ao experiente guarda-redes de 34 anos:
Rui Costa (RC): Com que idade começaste a jogar e o que te atraiu para a baliza?
Pedro Albergaria (PA): Eu comecei a jogar futebol de 11 com 9 anos mas antes disso já jogava futsal numa associação. O que me fez ir para a baliza?! Nem eu sei muito bem... Desde sempre que eu me vi na baliza mas não recordo do motivo... Sempre me senti bem, sempre gostei de ir à baliza.
RC: Qual o clube que te marcou mais? Porquê?
PA: Eu acho que foi o Boavista, por ser o meu clube e por ter feito lá toda a formação, por ainda ter estado lá algum tempo enquanto sénior, foi claramente o clube que mais me marcou.
RC: Qual o treinador que te marcou mais? Porquê?
PA: Houve alguns treinadores que me marcaram, se calhar vou ser injusto por não falar em mais, mas houve dois que penso que terão sido aqueles que mais me marcaram. Foi o Queiró, que foi meu treinador nos Juniores e enquanto Sénior, eu penso que terá sido o "Rochinha", o António Rocha. Mas se calhar estou a ser injusto para muitos... Porquê?! O Queiró pela mística que incutia nas equipas, pelo espírito de grupo que conseguia por nas equipas. Tinha uma liderança incrível, toda a gente lutava pelo mesmo de uma forma cega! O "Rochinha" não tinha esta característica de liderança mas em termos de conhecimentos de futebol veio-me mostrar uma forma de jogar diferente de todas aquelas que os outros treinadores me tinham ensinado.
RC: Tinhas ou tens algum ídolo?
PA: Eu nunca tive grandes ídolos mas houve um guarda-redes que me marcou, e marcou uma mudança no estilo dos guarda-redes que foi o Peter Schmeichel. Penso que alterou a técnica de baliza dos guarda-redes.
RC: Tens algum ritual antes de começar o jogo?
PA: Não, não sou supersticioso. Acho que esses rituais são um pouco sinónimo de falta de confiança!
Agora falando de penaltis!
RC: Qual a postura que tomas numa situação de penalti?
PA: Nunca fui grande especialista em penaltis, mas ao longo dos anos vamos melhorando a nossa postura. Há vários fatores que influenciam a decisão que eu vou tomar no penalti. O que tento perceber é as características do jogador, aquilo que lhe vai na cabeça, o momento de jogo, tentar perceber a pressão com que ele está.
RC: Achas que o guarda-redes tem mais vantagem se "antecipar" ou se "esperar" o remate?
PA: Tens que antecipar! O segredo é retardares ao máximo essa antecipação. Se esperares para reagir à bola vais defender muito poucos, muito poucos.
RC: Focas o teu olhar na bola ou na posição corporal do marcador?
PA: No jogador, a posição em que ele se coloca também é um fator que pode influenciar a minha decisão de escolher o lado.
RC: Fazes jogos psicológicos com o marcador?
PA: Normalmente não faço, só o facto de eu não fazer esse jogo psicológico demonstra ao adversário que estou confiante.
RC: Preferes um marcador destro ou canhoto?
PA: É indiferente, não vejo diferença nenhuma.
RC: Um penalti é bem marcado quando...
PA: Quando entra (risos)! Mas o que eu acho que faz mais diferença nem é a velocidade com que a bola vai, é sim a velocidade com que o jogador ataca e bate na bola.
RC: O que sentes quando defendes um penalti?
PA: É uma sensação muito boa, depende também do jogo que é, da sua importância e da situação de competição. Sente-se uma adrenalina incrível!
RC: E a sensação de defenderes dois penaltis num só jogo?
PA: Foi uma sensação diferente porque era um jogo que em termos desportivos não tinha grande influência para nós... Não havia aquela emoção de ser uma coisa realmente importante. Agora... Sabe muito bem e tendo em conta a nossa classificação, nós jogamos sem pressão nenhuma, nós usufruímos ao máximo do jogo.
RC: Alguma vez tinhas conseguido esse feito, de defender dois penaltis num só jogo?
PA: Não, nunca.
RC: Para terminar, darias algum conselho aos jovens que estão agora a iniciar a prática desta modalidade na posição de guarda-redes?
PA: É óbvio que as capacidades físicas e técnicas são importantes mas aquilo que eu acho que é mais importante num guarda-redes é a estabilidade emocional, mais de 50% de um guarda-redes está na estabilidade emocional, na tranquilidade que ele consegue pôr no jogo. Isso é sem dúvida o que mais influencia o desempenho de um guarda-redes. A grande dificuldade é nós encararmos o jogo com tranquilidade e sobretudo sem medo de falhar. Se tivermos medo de falhar claramente que não estamos na posição certa. Usufruam do jogo sem ter medo de falhar!
Aqui fica o vídeo do jogo contra a Oliveirense (defesas dos penaltis aos 0:40 e aos 0:55):
E aqui, mais uma defesa a um penalti no jogo frente ao Vila Real (minuto 6:06):
Um muito obrigado ao Pedro Albergaria pela disponibilidade e continuação de uma excelente época desportiva!
Quem trabalha com jovens nunca se deve esquecer que eles estão a passar por um processo de constante desenvolvimento e maturação, tanto física como mental, o que faz com que atravessem um período de formação pessoal e desportiva. Assim, o treinador de crianças e jovens não tem e não deve imitar o treinador de atletas seniores, assumindo comportamentos próprios e profissionais para a idade dos seus atletas.
O treinador tem que compreender que cada atleta tem o seu próprio ritmo de progressão, pelo que se torna fulcral o entendimento do que está a viver cada um deles e do que cada um precisa, completando a ideia de que é o treinador que tem a obrigação de se adaptar aos seus atletas e não ao contrário.
De acordo com Buceta (2001) a atitude construtiva dos treinadores de jovens deve reflectir-se em aspectos como os seguintes:
Criar um clima de trabalho agradável, em que predominem os desafios atractivos e realizáveis e os comentários positivos;
Admitir que os praticantes não são perfeitos e que, portanto, cometem erros, erros esses que fazem parte do seu processo formativo;
Assumir que não basta uma ou algumas explicações para que os atletas passem a fazer o que se pretende (as demonstrações são fundamentais), para além disso, é necessário um período de treino por vezes alargado para que os atletas assimilem a informação que recebem;
Compreender que cada atleta tem o seu próprio ritmo de aprendizagem e respeitar esse ritmo, ajudando-os a todos, sem menosprezar os que aprendem mais devagar ou com maior dificuldade;
Ter sempre uma perspectiva realista do que se pode e deve exigir aos atletas (não pedir mais do que eles podem fazer);
Dar valor e assinalar o esforço feito pelos atletas, mais do que os resultados que conseguiram obter;
Concentrar-se nos progressos dos atletas mais do que nos defeitos que ainda possuem e destacar sempre essa melhoria, em vez de recriminar os pontos fracos;
Ter paciência quando as coisas não forem realizadas como se esperava e dar ânimo aos atletas para tentarem de novo;
Analisar objectivamente os erros dos atletas e as situações difíceis do processo de treino, sempre com o objectivo de alcançar conclusões produtivas; os erros e as situações difíceis são excelentes oportunidades para saber como estão as coisas, que aspectos se devem trabalhar mais ou que pormenores devem ser alterados;
Aconteça o que acontecer, tratar sempre os atletas com respeito e carinho.
Contudo, o treinador deve também estar consciente de que a maioria dos atletas jovens que treina hoje não serão atletas de top amanhã, o que faz com que seja bastante importante a utilização da prática desportiva também como meio de socialização e formador de Homens. O potencial a longo prazo de cada atleta não consegue ser avaliado com 100% de certezas nos escalões iniciais de formação e o treinador deve acreditar nesse facto, possibilitando e oferecendo as mesmas oportunidades, aos que no momento, são menos aptos. Só deste modo será dada uma justa formação a todos os seus atletas, através da criação e exploração das mesmas situações de aprendizagem, das mesmas experiências, sucessos e insucessos vividos.
É certo que se o treinador aplicar este método na sua equipa, os resultados atuais poderão não ser os mais favoráveis, mas certamente que os resultados futuros serão mais sorridentes, para si, para os atletas e para a instituição!
A coordenação motora é a capacidade que o ser humano possui para utilizar de forma mais eficiente os músculos esqueléticos, resultando numa ação global mais natural e coordenada. Este tipo de coordenação pode ser avaliado através de movimentos que exijam velocidade, agilidade e energia, tornando importantíssimo o seu desenvolvimento nos guarda-redes. O sistema sensorial e o sistema músculo-esquelético atuam na coordenação motora e através da sua interação possibilitam um conjunto de reações e ações equilibradas, o que faz com que a velocidade e agilidade com que a pessoa responde a certos estímulos determine a sua capacidade motora.
No futebol, a coordenação motora permite que o jogador seja mais capaz de realizar as várias ações no jogo, uma vez que a sua mente possui um maior controlo no seu corpo e em todos os movimentos que executa.
A coordenação motora pode ser classificada em dois tipos: coordenação motora grossa e coordenação motora fina.
Na coordenação motora grossa verificamos o uso de grupos musculares maiores e o desenvolvimento de habilidades como correr, saltar e rematar. O cérebro controla os músculos esqueléticos e permite dominar movimentos do corpo por inteiro em situação de equilíbrio.
Na coordenação motora fina verificamos a utilização de grupos musculares de menor dimensão, como das mãos e dos pés que têm principal influência em movimentos mais precisos e delicados, em habilidades como o manuseamento da bola, o passe, a receção e os deslocamentos curtos e velozes que caracterizam a posto de guarda-redes.
Então, sabendo das habilidades que englobam os dois tipos de coordenação motora, torna-se crucial o desenvolvimento em treino das mesmas, de forma a melhorar e potenciar os gestos técnicos/específicos que um guarda-redes deve dominar.
Nos escalões de formação este aspeto deve ser tomado em conta com maior relevância, uma vez que as crianças e jovens possuem maior potencial e facilidade em atingir bons patamares de coordenação motora se as cargas de treino neste domínio forem suficientemente exigentes e satisfatórias.
Em baixo ficam alguns exemplos de exercícios que se podem realizar, com maior ou menor complexidade, para trabalhar diferentes habilidades especificas do guarda-redes através da coordenação motora.
O guarda-redes João Botelho, de 29 anos de idade que representa o Operário Lagoa, bateu hoje o recorde de minutos consecutivos sem sofrer golos nos campeonatos nacionais portugueses que pertencia à lenda Vitor Baía. O internacional português estabelecia um recorde de 1192 minutos que parecia inatingível e que durava há mais duas décadas.
Para ultrapassar a marca de Baía, João Botelho necessitava de 17 minutos sem sofrer golo na partida de hoje frente ao Benfica C. Branco e conseguiu chegar aos 36 minutos de jogo imbatível, elevando a marca para 1211 minutos! A vitória acabou por sorrir à equipa do guardião recordista, terminando com um 4-1 assinalado no placar.
A marcação de grandes penalidades no futebol é considerada uma das partes mais excitantes do jogo e apesar de vários jogadores e treinadores encararem os penaltis como uma questão de sorte, os cientistas do desporto têm o dever de provar e passar a ideia aos intervenientes de que a marcação do penalti vai muito além da sorte e que é muito afetada pela componente psicológica. Assim, o treino psicológico nunca deve ser colocado de parte, considerando também o treino técnico crucial para o sucesso da tarefa.
Muitas dúvidas surgem quando se comenta a intervenção dos guarda-redes na altura dos penaltis... Uns afirmam que o guarda-redes deve antecipar a resposta do adversário, ou seja, prever e adivinhar para que lado vai o jogador rematar e decidir frações de segundo antes do remate. Outros afirmam que o guarda-redes terá mais hipóteses de defender o penalti se aguardar pela decisão do jogador que remata e só depois se lançar para o lado da bola.
José Neto, professor doutor no Instituto Universitário da Maia e antigo colaborador do FC Porto, tem uma teoria sobre o penalti e afirma que a vantagem está claramente do lado de quem marca. Na marcação de uma grande penalidade "a bola pode atingir uma velocidade de 20.88 a 27.77 metros por segundo, ou seja, cerca de 120 km/hora. Sendo assim, a bola leva 400 a 600 milissegundos a chegar à baliza. Ora, a velocidade de deslocamento de um guarda-redes, a uma média de 4 metros por segundo, faz com que demore cerca de 900 milissegundos para alcançar um dos postes. O guarda-redes precisava de ter uma velocidade de 7.7 metros por segundo para impedir que a bola ultrapasse essa distância entre ele e o poste."
Assim, como deve então decidir o guarda-redes? "O guarda-redes tem sempre de se antecipar ao movimento da bola!" Por todos estes motivos, o professor José Neto discorda da teoria da lotaria dos penaltis. "Não é lotaria, é competência para a execução de uma tarefa, pois a sorte mede-se pela oportunidade que surge e pela competência em a resolver."
Em 2006, nos Quartos-Final do Campeonato do Mundo, a seleção nacional portuguesa venceu a Inglaterra nas decisão das grandes penalidades, sendo Ricardo (guarda-redes de Portugal) o herói da partida, ao conseguir deter 3 penaltis ingleses, de Frank Lampard, Steven Gerrard e Jamie Carragher. A imagem abaixo ilustra a teoria de José Neto, visto que é possível comprovar que o guardião português tomou a sua decisão curtos momentos antes do remate de cada jogador da seleção inglesa.
"Os três C´s dos Guarda-Redes são: calma, controlo e concentração" e Tim Howard mostrou, no jogo entre a Bélgica e os Estados Unidos da América a contar para os Oitavos de Final do Campeonato do Mundo 2014 que os consegue dominar e interligar muito bem. O guarda-redes contou com um total de 16 defesas ao longo da partida, que só se decidiu após prolongamento. Contudo, não conseguiu evitar a derrota da sua equipa, acabando por perder por 2-1.
Mas o que fez Tim Howard para conseguir um número de defesas tão elevado num único jogo e entrar para a história dos campeonatos do mundo?! Teve sorte? Estava num dia "sim"? Treinou os seus aspetos mentais e níveis de concentração?
Eu acredito na última hipótese! O treino mental/psíquico nos guarda-redes não deve ser esquecido e colocado de parte, pois um guarda-redes só se tornará completo se dominar todas as vertentes referidas no post anterior (técnica, tática, física e psicológica). Assim, o treinador de guarda-redes deve ser capaz de conjugá-las para proporcionar uma evolução eficaz ao seu atleta.
Os guarda-redes devem passar por situações de stress e pressão durante os treinos que se assemelhem às condições vividas em ambiente de jogo, de forma a conseguir incrementar os seus níveis de calma, controlo e concentração e assim tornarem-se mais fortes psicologicamente.
Considerando a posição de Guarda-Redes como a mais específica no futebol, o treino destes atletas deve estar assente em pilares bem definidos e estruturados que lhes possibilitem atingir o maior rendimento e potencial desportivo. Deste modo, o treino deverá proporcionar cargas que interfiram na componente técnica, tática, física e psicológica.
A nível técnico, o atleta deverá exercitar a posição básica, tal como a sua manutenção, os deslocamentos laterais, os diferentes tipos de receções, os desvios, os despejos com os punhos, a colocação e orientação, as saídas da baliza e a reposição de bola em jogo, com o pé e com a mão.
No que diz respeito ao trabalho tático, o atleta deverá treinar aspetos como a organização e coordenação da defesa, o apoio ao bloco defensivo, a autoridade e o domínio na grande área, os duelos em 1x1 e a gestão do tempo de jogo.
Quanto ao trabalho físico, devem ser trabalhadas diversas características como a velocidade de reação e execução, a agilidade e coordenação, a força explosiva, o equilíbrio e a flexibilidade.
A nível psicológico, a calma, a coragem, a determinação, a agressividade e a capacidade de concentração, decisão e antecipação devem estar presentes em todas as unidades de treino.