Porquê "Redes ao quadrado"?

A forma física da rede da baliza e a posição de Guarda-Redes, onde tudo o que acontece é elevado ao quadrado... Os sucessos e os fracassos! As alegrias e as frustrações! O esforço e a dedicação! A entrega e a paixão!

quinta-feira, 12 de março de 2015

Entrevista a Pedro Albergaria | FC Vizela

O "Redes ao Quadrado" entrevistou o guardião do Vizela, Pedro Albergaria que deu nas vistas, na semana passada, por defender dois penaltis num só jogo.  O feito foi conseguido na partida frente à Oliveirense, onde Pedro Albergaria conseguiu defender dois dos três penaltis assinalados contra o Vizela. No primeiro parou o remate de Marco Ribeiro e no segundo o de Evra, ajudando a sua equipa a conquistar uma vitória por 3-0.

Aqui se segue a entrevista ao experiente guarda-redes de 34 anos:

Rui Costa (RC): Com que idade começaste a jogar e o que te atraiu para a baliza?
Pedro Albergaria (PA): Eu comecei a jogar futebol de 11 com 9 anos mas antes disso já jogava futsal numa associação. O que me fez ir para a baliza?! Nem eu sei muito bem... Desde sempre que eu me vi na baliza mas não recordo do motivo... Sempre me senti bem, sempre gostei de ir à baliza.

RC: Qual o clube que te marcou mais? Porquê?
PA: Eu acho que foi o Boavista, por ser o meu clube e por ter feito lá toda a formação, por ainda ter estado lá algum tempo enquanto sénior, foi claramente o clube que mais me marcou.

RC: Qual o treinador que te marcou mais? Porquê?
PA: Houve alguns treinadores que me marcaram, se calhar vou ser injusto por não falar em mais, mas houve dois que penso que terão sido aqueles que mais me marcaram. Foi o Queiró, que foi meu treinador nos Juniores e enquanto Sénior, eu penso que terá sido o "Rochinha", o António Rocha. Mas se calhar estou a ser injusto para muitos... Porquê?! O Queiró pela mística que incutia nas equipas, pelo espírito de grupo que conseguia por nas equipas. Tinha uma liderança incrível, toda a gente lutava pelo mesmo de uma forma cega! O "Rochinha" não tinha esta característica de liderança mas em termos de conhecimentos de futebol veio-me mostrar uma forma de jogar diferente de todas aquelas que os outros treinadores me tinham ensinado.

RC: Tinhas ou tens algum ídolo?
PA: Eu nunca tive grandes ídolos mas houve um guarda-redes que me marcou, e marcou uma mudança no estilo dos guarda-redes que foi o Peter Schmeichel. Penso que alterou a técnica de baliza dos guarda-redes.

RC: Tens algum ritual antes de começar o jogo?
PA: Não, não sou supersticioso. Acho que esses rituais são um pouco sinónimo de falta de confiança!

Agora falando de penaltis!

RC: Qual a postura que tomas numa situação de penalti?
PA: Nunca fui grande especialista em penaltis, mas ao longo dos anos vamos melhorando a nossa postura. Há vários fatores que influenciam a decisão que eu vou tomar no penalti. O que tento perceber é as características do jogador, aquilo que lhe vai na cabeça, o momento de jogo, tentar perceber a pressão com que ele está.

RC: Achas que o guarda-redes tem mais vantagem se "antecipar" ou se "esperar" o remate?
PA: Tens que antecipar! O segredo é retardares ao máximo essa antecipação. Se esperares para reagir à bola vais defender muito poucos, muito poucos.

RC: Focas o teu olhar na bola ou na posição corporal do marcador?
PA: No jogador, a posição em que ele se coloca também é um fator que pode influenciar a minha decisão de escolher o lado.

RC: Fazes jogos psicológicos com o marcador?
PA: Normalmente não faço, só o facto de eu não fazer esse jogo psicológico demonstra ao adversário que estou confiante.

RC: Preferes um marcador destro ou canhoto?
PA: É indiferente, não vejo diferença nenhuma.

RC: Um penalti é bem marcado quando...
PA: Quando entra (risos)! Mas o que eu acho que faz mais diferença nem é a velocidade com que a bola vai, é sim a velocidade com que o jogador ataca e bate na bola.

RC: O que sentes quando defendes um penalti?
PA: É uma sensação muito boa, depende também do jogo que é, da sua importância e da situação de competição. Sente-se uma adrenalina incrível!

RC: E a sensação de defenderes dois penaltis num só jogo?
PA: Foi uma sensação diferente porque era um jogo que em termos desportivos não tinha grande influência para nós... Não havia aquela emoção de ser uma coisa realmente importante. Agora... Sabe muito bem e tendo em conta a nossa classificação, nós jogamos sem pressão nenhuma, nós usufruímos ao máximo do jogo.

RC: Alguma vez tinhas conseguido esse feito, de defender dois penaltis num só jogo?
PA: Não, nunca.

RC: Para terminar, darias algum conselho aos jovens que estão agora a iniciar a prática desta modalidade na posição de guarda-redes?
PA: É óbvio que as capacidades físicas e técnicas são importantes mas aquilo que eu acho que é mais importante num guarda-redes é a estabilidade emocional, mais de 50% de um guarda-redes está na estabilidade emocional, na tranquilidade que ele consegue pôr no jogo. Isso é sem dúvida o que mais influencia o desempenho de um guarda-redes. A grande dificuldade é nós encararmos o jogo com tranquilidade e sobretudo sem medo de falhar. Se tivermos medo de falhar claramente que não estamos na posição certa. Usufruam do jogo sem ter medo de falhar!

Aqui fica o vídeo do jogo contra a Oliveirense (defesas dos penaltis aos 0:40 e aos 0:55):


E aqui, mais uma defesa a um penalti no jogo frente ao Vila Real (minuto 6:06):


Um muito obrigado ao Pedro Albergaria pela disponibilidade e continuação de uma excelente época desportiva!

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